Foi uma conversa curta, mas muito produtiva, a que tive com o Prof. Fernando Santos Osório, docente do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação do Campus USP de São Carlos, no decurso da última edição do programa “Ciência às 19 Horas”, promovido pelo Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) no dia 18 de abril último. Falámos sobre Inteligência Artificial (IA), exatamente o tema que ele iria debater nesse dia e cujo resumo se concentrava na afirmação de que a IA está em tudo e em todo lugar, com muitas aplicações e presente no dia a dia das pessoas, talvez até mesmo sem elas perceberem. Nos táxis, nos diversos aplicativos, na recomendação de filmes por streaming (p.ex. Netflix), mas também nos robôs da OBR (Olimpíada Brasileira de Robótica), nos robôs inteligentes, em aspiradores de pó, nos robôs do tipo veículos autônomos, nos robôs assistentes virtuais (p.ex. Alexa e Siri), e mais recentemente nos robôs de conversação, os chatbots, como o ChatGPT.
Em nossa conversa, o Prof. Osório afirmou que o que todo mundo deve fazer é se acostumar com a IA, já que ela vai ficar cada vez mais presente no cotidiano da sociedade. A partir daí, podem-se imaginar carros autônomos, diagnósticos médicos de excelência, atendimentos personalizados, sendo que tudo isso já está um pouco presente na nossa vida e vai aumentar ainda mais. Mas, segundo o pesquisador, ainda irá demorar um pouco, tendo em atenção que embora hajam muitos benefícios, também existem muitos riscos e prejuízos. Um desses riscos diz respeito a vários casos confirmados de eleições que foram influenciadas utilizando a IA. Osório deu o exemplo dos EUA, Brasil e Inglaterra, através de redes sociais, com a introdução de “fake news”, impulsionando notícias que eram favoráveis ou contrárias a determinados candidatos. Então, para ele existe, sim, uma ameaça à democracia em função da desinformação e da manipulação da informação que pode ser amplificada pelas ferramentas que a IA dispõe.
ChatGPT: uma revolução ou uma trapaça?
Claro que um dos assuntos desta curta conversa desaguou no já conhecido ChatGPT, que, no entendimento de meu interlocutor, é algo experimental e que nunca deveria ter sido aberto de forma geral e gratuita ao público, já que esse lançamento foi uma questão econômica para promover e capitalizar as novas versões que foram sendo desenvolvidas até hoje. Para Osório, o ChatGPT tem mais problemas do que vantagens e deveria ser pesquisado a fundo. Embora seja contrário a parar pesquisas - sejam elas quais forem - o Prof. Osório acha que foi uma irresponsabilidade lançar o ChatGPT, atendendo a diversos pormenores, entre os quais o fato de ele poder ser treinado para ser introduzido no Whatsapp para iniciar e manter uma conversação, por exemplo, com tendências políticas - ou quaisquer outras que se pretendam inserir. O ChatGPT escreve bem e para as pessoas isso dá a ele a característica de uma autoridade igual a pessoas que falam e escrevem bem - pessoas cultas. Então, segundo o pesquisador, você pensa que ele é
uma ferramenta culta e inteligente na qual você poderá confiar, da mesma forma como confia nas pessoas que têm reputação pública. Aí, você dá crédito ao ChatGPT, mas as respostas que ele dá são quase sempre erradas... Ele alucina e inventa coisas completamente aleatórias, algo que é prejudicial e muito perigoso, adverte o Prof. Fernando Osório.
Quanto ao fato de muitas pessoas afirmarem que o ChatGPT pode vir a constituir uma ameaça aos empregos, Fernando Osório classifica isso como uma fantasia. “Isso não é real! Ele não vai roubar empregos a ninguém... Estou falando do ChatGPT e não da tecnologia, pois esse é outro tema”, sublinha o pesquisador, acrescentando que está havendo uma injeção muito grande de dinheiro relativamente a propaganda. Para ele, o que se pretende é super-valorizar e passar a ideia de que o ChatGPT é muito mais do que na realidade ele é. De fato, ele nada cria, apenas copia informações e as trata através de seu sistema.
O autor é jornalista profissional / correspondente para a Europa pela GNS Press Association / EUCJ - European Chamber of Journalists / European News Agency) - MTB 66181/SP.
Fonte:-saocarlosagora